"Urge um tempo que respeite a necessidade de cada um. Necessitamos de fazer uso da Empatia. Assim, será mais fácil perceber que cada um, tem em si, dialetos e sotaques diferentes." - Bruno Roseiro
O dia a dia e a necessidade de olhar
Ao longo da nossa vida somos educados a ter em conta o que somos e a constante relação com o que nos circunda. Como se houvesse uma interdependência existencial entre o eu e o outro. Somos também levados a tentar perceber qual a perspectiva do outro.
Nestas orientações pedagógicas, emergem os primeiros pensamentos democráticos. A importância do meu bem-estar, em constante avaliação, por comparação ou equivalência, com o bem-estar alheio. Levando-nos assim a procurar agir em liberdade.
Tendo assim estes dois pilares educacionais, Liberdade e Ser, como poderemos perceber melhor em que grau de aprendizagem estamos, já que estes estão completamente dependentes da percepção da minha pessoa, do próximo e do mundo?
Bom, na sua origem percepção chega-nos do latim per-ceber que significa observar, conhecer por meio dos sentidos. [Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss]' in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
Como tal, estamos dependentes, pelo menos, de um meio sensitivo, para conseguir receber informação, interna ou externa, para depois conseguir interpretá-la com recurso ao Sistema Nervoso Central.
Noutro prisma, cada interpretação é realizada tendo como base toda a informação que vamos reunindo ao longo de toda a vida, desde o período intra-uterino.
Como conseguimos então saber se a percepção que temos da realidade está correcta? Como será possível confiar que a nossa visão, opinião ou mera escolha está correcta?
Bom, tendo como premissa a possibilidade de estar errado, penso que nos podemos aproximar mais da realidade, se tivermos em mente dois conceitos: actualidade (tempo e eventos) e a relação pessoal e interpessoal. Se basear a minha percepção nestes dois prumos, talvez me seja possível aproximar do que é a realidade onde estou inserido.
Quanto à actualidade, não me é possível ter a mesma percepção de alguém que viveu no século passado e durante a 2ª Guerra Mundial. No máximo conseguirei compreender o conceito. Quanto à relação, será diferente a percepção de alguém que se encontra em retiro espiritual, da que é tida por alguém que vive numa cidade.
E onde se vão inserir estas diferenças? Na capacidade, maior ou menor, de lidar com as informações que recebemos.
No fundo quero referir-me à nossa Saúde Mental. A nossa capacidade para utilizar o intelecto, dá-nos acesso a poder descodificar o dia a dia. Se essa capacidade não se encontra estável, leva-nos a observar o mundo com umas dioptrias desajustadas. A nossa visão encontra-se, assim, turva...
Vivemos assim, numa época voraz, faminta de informação, sem que se consiga captá-la e digeri-la. Damos assim, espaço para más interpretações, para meias leituras.
Urge um tempo que respeite a necessidade de cada um. Necessitamos de fazer uso da Empatia. Assim, será mais fácil perceber que cada um, tem em si, dialetos e sotaques diferentes.
Bruno Roseiro
Educador (em Acção Social)
Texto integrado no projecto:
“A escrita como ferramenta de expressão, partilha e aprendizagem” – Dialógicos