Patrícia C. Roseiro - Psicóloga Clínica - Dialógicos
Ao longo destes dias/ semanas, muito se tem falado/escrito sobre a promoção da saúde mental, a propósito do Dia Mundia da Saúde Mental, a 10 de Outubro.
Investimos na saúde mental quando promovemos a discussão sobre temas como a depressão, a ansiedade, os ataques de pânico, o suicídio, os esgotamentos mentais, entre outros quadros. Abrimos espaço a que diferentes pessoas possam partilhar as suas experiências, tornando reais estes quadros, e afastando a ideia de que "isso acontece aos outros", muitos deles, "os loucos".
Mas também investimos (preventiva e significativamente) na saúde mental quando conseguimos, ao longo do curso das nossas vidas:
- identificar e traduzir o que estamos a sentir perante diversas vivências, o que despoletou internamente aquele sentir, de modo a dar lugar à elaboração afectiva (prevenindo, p.ex., crises de ansiedade ou ataques de pânico, que surgem quando a emoção, ou seja, a reacção fisiológica, não é traduzida em sentimento e/ou compreendida a sua causa ou representação simbólica);
- conhecer o nosso verdadeiro Eu (prevenindo, p.ex., as depressões que têm por base o controlo emocional e afectivo, numa vivência rumo ao agradar ao outro, ao corresponder sistematicamente a ideais externos, procurando garantir, assim, amor ou aceitação; prevenindo também a confusão mental proveniente de momentos em que não sabemos "quem sou eu?" ou não conseguimos diferenciar se aquela ideia/pensamento provém de nós ou do outro);
- falar sobre o que sentimos, numa perspectiva de confronto e respeito connosco e com o outro (prevenindo, por exemplo, depressões que provêm de um acumular de sentimentos não expressos, pois confronto implica falar directamente sobre o que aconteceu ou se sentiu, numa perspectiva de respeito e concílio; e conflito implica auto-centramento, acusação, por vezes ruptura; prevenindo também o cansaço mental, a irritação permanente, provenientes das ideias que disparam internamente porque não se falou com determinada pessoa face a um dado comportamento, e se começa a imaginar que "ela pensou que eu..." ou "ela já não vem comigo porque....");
- conciliar o prazer e o dever (prevenindo uma vida vazia, em que estamos anestesiados, "mortos antes de morrer", uma vez que o prazer, associado ao Id falado nas teorias psicodinâmicas, representa vida).
Face a este último ponto, o desafio é mesmo descobrimos o que nos dá prazer e depois, procurarmos conciliar esses prazeres na vida quotidiana, onde os deveres e o tempo corrido imperam.
O que te dá prazer?
Muitas são as fontes de prazer (e, logo, de libertação hormonas conhecidas como "da felicidade": serotonina, dopamina, endorfina, oxitocina):
Quando rimos, conversamos, lemos um livro, vemos um filme, fazemos uma caminhada na natureza;
Quando nos encontramos para um passeio com amigos, na riqueza da partilha e do convívio;
Quando nos envolvemos emocional e sexualmente com um/a parceiro/a (num encontro esporádico ou com quem tenhamos uma relação);
Quando choramos, rimos, ao ver uma peça de teatro;
Quando nos emocionamos e choramos ao escutar e sentir os acordes no concerto;
Quando viajamos e conhecemos novos locais, culturas, pessoas, gastronomias;
Quando brincamos com o nosso animal de estimação...
Que possamos todos olhar para dentro de nós e ir encontrando formas de investimento na nossa saúde mental, desde os "pequenos grandes" hábitos descritos anteriormente, à marcação de uma consulta com um profissional de saúde mental, quando se revela necessário, dados os sintomas que surgem.
Patrícia C Roseiro
Psicóloga Clínica
Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde
OPP - 6403